tantascoisasparadizer (poema electrónico)

poema visual «tantas coisas para dizer»
poema visual «tantas coisas para dizer»

O poema que pode ser visto acima foi escrito por mim há uns anos atrás. «Há uns anos atrás» serve para dizer que não sei quando o fiz ao mesmo tempo que chamo a atenção para a importância de datar e documentar os processos criativos e os produtos deles resultantes. Foi, portanto, «há uns anos atrás» porque «há uns anos à frente» seria um bocadinho difícil de acordo com o paradigma da Física actualmente vigente.

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BOAS VIDAS

O poema visual tantas coisas para dizer teve várias vidas. Foi publicado em dois diferentes suportes: primeiro, em Agosto de 2007, no Poema Visual, gerido e dinamizado por Hugo Pontes (Brasil); depois, em Janeiro de 2013, no nº 120 da revista Ler (Portugal). E foi o ponto de partida para a criação de um outro texto pelo colectivo aranhiças & elefantes, através do processo de “escangalhanço”, trabalhado para performance no Poetry Slam do Festival Silêncio, em Junho de 2011.

A publicação no portal Poema Visual surgiu da vontade de dar o meu modesto contributo para uma plataforma electrónica repleta de poemas visuais de autores/as dos quatro cantos do mundo, uns/umas mais conhecidos/as, outros/as menos – o que é interessante enquanto política editorial e que, acredito, mostra bem qual a postura da equipa do site enquanto agente divulgador desta poética marginal(izada).

A submissão ao espaço 15.25 da revista Ler, confesso, teve como força motivadora as ganas de fazer paródia aos típicos critérios de submissão e escolha de textos para publicação no meio literário. Escrevi no e-mail onde o poema era submetido para apreciação: «o meu poema não tem mais de 3000 caracteres», afirmação irónica depois da frase «julgo que será um bom contributo, na medida em que é muito raro ver publicados textos experimentais no vosso espaço». Claro que esta alusão à invisibilidade das poéticas experimentais é dirigida a esta revista apenas enquanto pequena parte de um todo, um todo que ainda hoje não compreendeu (não quis compreender) o que são as artes da linguagem depois das vanguardas históricas da primeira metade do século XX. E a verdade é que não é obrigada a isso, mas não pode evitar o gozo de gente que, de vez em quando, tem grande lata. Para meu espanto, o poema não só foi publicado como teve direito a avantajadas dimensões no espaço gráfico da página 86 da edição de Janeiro de 2013. Claro que não consegui um lugar no pódio com direito a receber livros como prémio. Os livros foram para um rapaz que escreveu um poema de amor e ausência (com as palavras «pele», «eu», «água», «fogo», «recanto», «jasmim» e expressões como «o teu respirar leve» e «o teu passo impreciso») e para um outro moço que, no seu texto em prosa, entre outras misoginias, afiançava que «as mulheres são literatura», fazendo depois desfilar pelas linhas do seu texto uma torrente de vulgares estereótipos da figura da mulher entrecruzados com não menos banais lugares comuns sobre os livros e a criação literária.

A nova vida que foi dada ao poema pelo colectivo aranhiças & elefantes é, sem dúvida, a mais interessante. Não há nada de especial neste poema que o faça servir como base de trabalho da criação colectiva; faz, isso sim, parte do nosso processo de trabalho usar qualquer input para criar novos textos. E, nesse processo, vale tudo: derivar, construir/desconstruir, expandir/rasurar. Portanto, acreditamos – se neste breve ponto posso falar também em nome da Liliana Vasques e da Rita Grácio – que qualquer texto é sempre um novo texto ainda que tenha na sua génese uma pequena e difusa âncora. Parece-me que sobre um processo que é colectivo há que falar colectivamente. Como a nossa pausa na criação nos faz andar caladinhas/o, o melhor testemunho que aqui posso deixar sobre o nosso processo criativo é este. (Que engraçado… Já não me lembrava que a faixa sonora com a qual começamos a comunicação é precisamente um fragmento da performance tantas coisas para dizer.)

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OUTRAS VIDAS

O poema tantascoisasparadizer é uma recodificação electrónica do poema visual com o mesmo título, aqui com supressão dos espaços que antes separavam as palavras que lhe dão o nome. A ideia era replicar em meio digital a poética interior ao texto que está na sua génese, o que considero ter sido conseguido. Isto, julgo, vem colocar em evidência o facto de o texto experimental partilhar, de certa forma, das premissas que estão na base da criação assistida por computador. No fundo, e sem ir muito longe nesta reflexão, é como se o poema visual tantas coisas para dizer fosse uma cristalização no espaço-tempo do poema electrónico tantascoisasparadizer. Mas, se virmos as coisas por outro lado, o poema visual não continha já em si uma ideia de movimento? Não estava, também ele, focado no processo? Não era já a sua natureza uma natureza performativa?

Este poema foi construído com recurso ao software Processing e parti do código Text – Pulse, escrito por Bruno Richter e por ele partilhado em código aberto. Em larga medida, é a estas linhas de código que devo a existência visual e processual do meu poema. Poucas foram as alterações que fiz ao código deste outro Bruno; a base por ele construída está aqui toda, apenas lhe introduzi pequenas variantes. Às suas linhas de código acrescentei algumas outras de modo a incorporar áudio no poema. As vozes que se ouvem quando se navega no poema são as vozes da Célia e do Cristiano, dois seres cibernéticos que vivem dentro de ferramentas text-to-speech.

O poema electrónico tem de ser corrido a partir do disco rígido do utilizador. O download pode ser feito através dos ficheiros abaixo, de acordo com o sistema operativo do/a utilizador(a). É provável que o anti-vírus instalado no computador salte no ecrã para avisar que os ficheiros são perigosos. Mas, asseguro: digam o que disserem, a poesia ergódica não é assim tão prejudicial.

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Linux x32 [download]

Linux x64 [download]

MacOSX [download]

Windows x32 [download]

Windows x64 [download]

Update 05/12/13: links agora disponíveis noutro serviço de hospedagem (seguro).

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Instruções: descarregar o respectivo ficheiro, descomprimir/extrair e correr o executável. No Linux será necessário compilar a partir do terminal.

Testado e a funcionar em: MacOs 10.6, Ubuntu 13.10, Windows XP, Windows 7 e Windows Vista.

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